Hoje é dia 30 de julho. Há 181 dias exatamente, minha avó morreu. Fazem 6 meses.
Pra mim é difícil sequer acreditar nisso. Eu vivo meio anestesiada. Lembro, choro. Mas ainda tem momentos que quando o telefone toca, eu penso: é a minha vó.
Ela me ligava, sem exagero, umas 10 vezes no dia. Eu reclamava, claro. E quando de repente tudo virou silêncio... eu senti culpa. Culpa por cada vez que deixei de ligar quando chegava em casa (afinal, eu sou adulta, casada, mãe... minha vó me acha criança pra sempre?), culpa pela falta de paciência quando ela falava da doença dela ( e agora, sei que ela viva seria a ÚNICA com saco pra me aturar quando quero falar da minha doença).
Sinto tanta saudade que perco completamente as estribeiras quando vejo uma foto. Choro compulsivamente. Simplesmente porque é inacreditável. Eu tenho o dia 29 de janeiro fixado na minha memória. Meu último dia do lado dela, na casa dela, com a comida dela... sem saber que aquele era o último dia dela nesse mundo.
Eu posso dizer, com todo meu coração, sem medo de parecer piegas, que minha vida acabou um pouco naquele 30 de janeiro, quando o telefone me acordou as 5 da manhã, trazendo a pior notícia (lembro que quando o telefone tocou, sabia que era sobre ela. Estranho.)
Desde aquele dia, minha vida entrou num furacão louco. Teve tanta coisa. Decepção com pessoas muito queridas, separação do meu marido, e quando tudo parecia melhorar um pouco, a doença.
Em todas essas fases, eu sempre pensava ( e penso): se a minha avó estivesse aqui, tudo seria diferente.
Tenho saudade da comida maravilhosa, dos telefonemas chatos, que mostravam preocupação que só uma mãe tem.
Saudade do barulho do plástico bolha.
Eu vivi com ela desde quando era bebê, recém nascido, até o dia que saí de casa para morar com o meu marido. Eu tinha 23 anos. Até os 20, dormimos na mesma cama.
Eu posso dizer sem o mínimo medo do que possa parecer, que a minha relação com ela NINGUÉM tem, teve, ou terá.
Ela é minha mãe, por opção. Vai sempre ser.
A ligação é diferente da ligação incrível que tenho com meu avô. Ele disse, escreveu, deixou marcado, que eu era o coração dele fora do corpo.
Ela nunca escreveu. Ela VIVEU isso. Vibrou quando passei na prova da OAB, e adorava falar isso pros outros. E mesmo assim, nem titubeou (mesmo eu achando que ela não me apoiaria) em me dar TODA a força do mundo quando eu larguei tudo e virei "só" fotógrafa.
Nós brigamos também. Que mãe e filha não brigam?
E eu tive o grande prazer de ver ela com a minha filha, super babona. Ser bisa é ser vó duas vezes, ela dizia. Brigava comigo quando eu brigava com a Clara. Infelizmente ela não viu a Clara fazer 5 anos e não deu o que tinha me dito que daria. Só nós duas sabemos. Não importa mais.
Eu fico pensando na vila, nas casas onde moramos, só nós duas. No seu cachorro quente. No feijão, no nhoque....
Penso no jogo de buraco, ou na "víspora". Eu não consigo compreender. Vai além de fé. Quando a senhora foi embora vó, eu achava que tinha uma crença definida. Mentira. Os acontecimentos da minha vida nos últimos 6 meses aumentaram minha fé, mas eu não creio mais numa coisa só. Pelo simples fato de que nada me tranquiliza quanto à onde a senhora está hoje. Não sei mais em que acreditar.
Sei que aqui no meu coração, a senhora está bem.
Ao contrário do meu avô, que nesses 19 anos de partida, apareceu pra mim poucas vezes nos sonhos, sonho com a senhora quase todo dia. Tive medo disso, hoje acho bom. A senhora está comigo, de alguma forma, pra sempre. No meu sangue, nas minhas veias, no meu coração, na minha memória, na minha vida.
Obrigada vó.
Te amo TANTO.
Pra sempre.
Saudade.
que esse amor que admiro bastante, que toca e emociona, te guie, ilumine e te faca sempre traduzi-lo em palavras para inspirar quem as ler.
ResponderExcluirmuito emocionada!
xero
Obrigada Jôse!
ExcluirCarol,
ResponderExcluirQue lindo!
A forma como lidamos com a fé é algo íntimo demais e confessar que temos dúvidas e medos é uma atitude grandiosa. Principalmente em um momento de dor.
Lidar com a separação de alguém tão amado não é tarefa fácil. Vi poucas pessoas passarem ilesas por esse processo, que, infelizmente, é inevitável na vida de todo mundo.
Sua (antiga?) crença no Kardecismo provavelmente faz com que sua cabeça ferva com possibilidades e perguntas que, no momento, não têm respostas.
Sou kardecista, mas acho que neste momento de dor, o mais bacana é vivê-la à sua maneira para superá-la. Despeje todo seu amor nas lembranças, na saudade, nos exemplos, na educação da Clara e, por que não?, no choro também!
Esta dor passa. E, independente de qual (ou quais) seja sua fé hoje, tenha a certeza de que seu amor por ela a alimenta e sustenta. E que isso jamais se apagará. Assim como o amor que ela ainda sente por você funcionará sempre como um alicerce em sua vida.
O amor, Carol, independente de religião, não morre!
Força e coragem! Apesar de ter certeza de que você as tem de sobra!
Beijos