sexta-feira, 23 de agosto de 2013

LIVE FOREVER.

Eu penso sempre em muitas coisas pra escrever aqui. Como é um diário, eu me dou o direito de fazer drama, de me encher de esperanças infundadas. Tanto faz. Pensei em falar sobre preconceito, sobre a doença que eu tenho (E.M), sobre as emoções que afetam tanto a nossa saúde e nem percebemos.
Hoje passei o dia meio lenta. Meio sonolenta, acordei cedo. Mas eu passei o dia pensando que preciso muito lutar contra algo que sinto muito nos últimos dias: sensação de morte. Calma, não acho que vou morrer. Mas tenho sentido morrer o ideal da minha vida. Vejo as vezes uma morte lenta e dolorida de muitos projetos. Vejo a vida da minha família mudar por minha causa.
Sei que isso passa pela cabeça de muitas pessoas que estejam passando por uma situação semelhante. Mas na verdade o que sinto é que ficar pensando em que lugar do meu corpo vou tomar a injeção hoje, ou se tal alimento tem cálcio e por isso não posso nunca mais comê-lo, não é o que sonhei pra mim.
Claro que isso resulta em deprê, e das grandes, porque sonhando com isso ou não, um tratamento meu exige injeções diárias e o outro, dieta severa.
É, eu sei. É bobeira. Afinal, eu tenho que agradecer por ter um tratamento. Claro. Me dizem muito isso e a cada dia percebo que esse luto é só meu, ninguém mais entende. Uns podem dizer que tenho pouca fé. Não acho, pois se tivesse pouca fé, teria pirado. Todos dizem que devo pensar na Clara. Se pensar nela dá força? Óbvio.
Mas eu sinto falta de mim mesma. Os projetos morreram, e sem eles, eu, como indivíduo que existe além do corpo doente, morro também.
Eu hoje fiquei pensando na minha adolescência. Sonhei com poucas coisas. Queria ter uma família, porque esse trauma pega mesmo na vida de qualquer um. Bem, tenho a minha e a amo mais que tudo.
E outros sonhos? Queria viajar, conhecer pessoas, ir em shows, ter uma mesa bem cheia de netos quando estivesse bem velha. Eu realmente não faço o tipo consumista e meus sonhos não são compráveis, meus amigos de verdade sabem disso.
Sinto muita saudade, de muita coisa. Mas o que mais sinto é saudade da sensação que temos de que nunca vamos morrer, nunca vamos ficar doentes. Sabe aquela coisa bem de adolescente? Isso mesmo.
Eu quero viver pra sempre.
Eu não gosto de ler que o "prognóstico" da esclerose é de viver de 10 a 5 anos a menos que os outros. E viver com limitações, deixando pra trás a cada dia um lugar que eu não conheço, uma banda que eu não vi ao vivo, um dia da vida da minha filha adulta e dos meus futuros netos.
Triste pensar assim, eu sei. Mas é contra isso que eu estou lutando. Contra essa constatação de fraqueza, de todo ser humano, mas que só vemos na beira da linha, bem na margem do precipício.
Como se faz pra viver pra sempre?
Talvez pela filha que eu tenho, pelas fotos que eu tiro, pelas coisas que escrevo.
Eu não sei ainda. Mas eu vou viver pra sempre. Que seja na memória de um, de outro. Que seja numa história, numa lembrança.
Se meu corpo, mesmo doente, estiver aqui, ok. Mas a alma eu sei que estará, sempre,  vivendo...

"Maybe I just want to fly,
 Wanna live, don't wanna die,
 Maybe I just want to breathe,
Maybe I just don't believe;
Maybe you're the same as me,
We see things they'll never see
You and I are gonna live forever."


Até mais.

Carol.




5 comentários:

  1. Oi Carol!

    Eu realmente não faço idéia do que seja viver com a doença. Mas lendo seus textos, tenho uma noção (muito vaga) do que pode ser o dia-a-dia de uma pessoa com EM. Mas realmente, só quem tem sabe como é. Por isso, te digo, não se sinta culpada pelos momentos de tristeza e angústia. É claro que tem pessoas pelo mundo que sofrem mais que vc. Mas isso não invalida o seu sofrimento, que com certeza, só vc conhece.

    Te desejo muita força! E uma vida muito feliz ao lado das pessoas que vc ama!

    Bjs,
    Luciane

    ResponderExcluir
  2. relato corajoso, emocionante pra mim. por me ver em alguns pontos e assumir isso só pra mim, pois minha sagiatarianice "exige" que eu seja (pareça) sempre forte. Pelo menos para o mundo. Para os meus, as vezes muita coisa vem à tona, mas é algo que evito me permitir, pela incompreensão que citaste, por soar para os outros ingratidão, falta de fé, afinal, somos ensinados que sempre tem um pior que nós e automaticamente nos obrigamos a desmerecer nosso sofrimento e usar essa condição comparativa também com os outros.
    das coisas que a psicologia me deu, foi a sensibilidade de respeitar todo e qualquer sofrimento, sem menosprezá-lo, sem taxá-lo. dor é dor e FIM. quer seja supostamente/teoricamente maior ou menor que a do vizinho, e só quem sente é que sabe o tamanho da sua. questiono outras coisas...tamanho de dor não!
    força na tua luta, noo teu luto. e coragem: pra seguir, pra ver e VENCER. força tuu tens! :* beijo carinhoso

    ResponderExcluir
  3. Obrigada queridas Jose e Luciane! Poucas vezes escrevi com tanta verdade. Tenho força sim, na maioria das vezes estou bem demais para quem passou pelo que passei em tão poucos meses. Mas no dia da tristeza, ao invés de um ombro, ou de um chora mesmo que faz bem, a maioria exige mais força ainda. Isso é bem ruim. Mas o post fala da sensação de morte que a doença traz. Mesmo quando se está bem, tratada. Jose, vc sabe como e isso. De quanto abriste mão pela doença do gui? Somente o dono da dor sabe o quanto dói.

    ResponderExcluir
  4. Muito bom Carol! Entendo perfeitamente essas sensações, mas vai passar e tu vai te sentir mais forte! E às vezes vai voltar... Mas temos que mandar esses pensamentos bem pra longe! E escrever ajuda pra isso! Tocante teu post! Sucesso pra ti! E acredite, teus sonhos vivem, assim como tu vive! Vamos ficar bem velhinhos e um dia contar essas histórias para nossos netos... Bjs

    ResponderExcluir