Vou começar lááááá do começo.
Como contei há algumas postagens atrás, eu, assim que fui diagnosticada, fiquei meio desesperada porque não conseguia um neurologista para avaliar meu caso. Só conseguia médicos para me atender em, no mínimo, 2 meses. As coisas degringolaram e eu acabei achando a minha neuro, que vem me acompanhando nesses meses e tenho gostado muito. Mas no auge do desespero, sabendo que aquele laudo de "afecção desmielinizante" não podia ser coisa boa, sem médico, ainda com sintoma do surto em que me encontrava, meu marido teve a ideia de telefonar pro Rede Sarah.
Como é considerado referência para reabilitação neurológica, é muito concorrido. Aqui no Rio, ele fica na Barra da Tijuca. Sempre passei em frente e achei aquela arquitetura muito maneira. Nunca imaginei que lá dentro, muitas outras coisas me deixariam de boca aberta.
Enfim, como cheguei lá ? Bem, depois de 4 meses, me ligaram. Simples assim. Um belo dia : "Dona Carolina? Aqui é da Rede Sarah. A senhora ainda tem interesse em nos conhecer? Chegou a sua vez!". Eu argumentei que já tinha médico, que não havia ficado com sequelas do surto, que talvez uma pessoa mais necessitada precisasse mais. A pessoa do outro lado da linha falou: "posso te dar um conselho? Vem. Não perde essa chance. TODO mundo devia conhecer aqui, ter um tratamento aqui. Os médicos são MUITO bons. Venha!".
Claro que resolvi ir né? Queria mesmo uma segunda opinião, já que até hoje, a EM entrou na minha vida assim, pela boca de um médico só.
Fomos hoje. E eu estou MARAVILHADA.
Primeiro: O lugar é lindo, limpo demais, organizado ao extremo. Podia dizer que "nem parece público". Mas é mais que isso. Nem parece Brasil. Funcionários MUITO bem treinados, educadíssimos. Muitos funcionários deficientes físicos (achei isso sensacionaaaaaal demais!!).
Assim que entrei, me direcionei à recepção. Informei que tinha consulta marcada para 15:30. Eram 14:00. Pra se ter noção da eficiência, às 15:30, quando deveria estar sendo atendida, estava saindo de lá.
Ela não me impediu de fazer a ficha e a consulta por ter esquecido de levar um comprovante de residência. Eu, já traumatizada com a eterna burocracia desse país, fiquei impressionada quando ela disse que "não importa, damos um jeito'. Olhei pro rosto daquela menina, pensei... que legal. Boa vontade já é bom começo em qualquer lugar. Reparei que ela era bem estrábica. Pensei que talvez também tenha EM (muitos ficam estrábicos). Não importa, ela já tinha ganhado minha admiração pela educação com todos ao redor.
Entrei e fui atendida em coisa de 5 minutos. Nesse meio tempo, só pude reparar tudo muito organizado, por cores dividindo os setores. Reparei nas pessoas. Essa parte é um SOCO no estômago. Muita gente em situações muito difíceis. Daquelas que dá vergonha de reclamar da vida. Doenças muito estranhas, acidentes de carro, tiros... não sei quantas formas diferentes de ter sido lesado e precisar de reabilitação. Todo mundo lá, super confortável, com ar condicionado, TV, cadeiras que não estavam sucateadas. A beleza do local é algo à parte, mas é o que menos importa.
Enfim, bem rápido me chamaram. Fui, e passei pela recepcionista do ambulatório. Uma moça linda, cadeirante. MUITO educada e eficiente. Depois reconheci pelo nome que ela tinha me ligado pra confirmar a consulta. SIM, um hospital público que te liga para marcar consulta e para confirmar consulta. Pasmem.
Entrei no consultório e dei de cara com a Drª Simone. Sotaque de mineira, e mega calma, carismática. Junto dela uma enfermeira de quem não lembro o nome agora. Outra enfermeira, grávida, "adotou" a Clara e foi brincar com ela, imprimindo folhas com desenhos das Monster High. Nem eu tenho saco para isso. RS.
A consulta demorou cerca de 1 hora e 30 minutos. Contei toda minha história, conversei sobre o que sinto, levei exames prontos que foram escaneados e colocados no meu prontuário. Fiz testes neurológicos, de reflexo, de sensibilidade. Passei de ano! Rs!
Ela confirmou a sugestividade de EM, pediu somente um exame que eu não fiz, para descartar que seja DEVIC, outra doença desmielinizante que pode ser confundida com EM. Mas ela mesma disse que é preciosismo, pois o líquor e a ressonância, além dos dados clínicos, sugerem mesmo EM. Agora, onde já se viu preciosismo em rede pública? Não podia existir sempre esse cuidado para diagnósticos precisos?
Enfim, ela me disse que devo continuar assistida pela minha neuro, pois lá eles não fazem atendimentos de emergência, não fazem pulsoterapia em caso de surto, etc. São focados em reabilitar você pra que sua qualidade de vida seja recuperada ao máximo.
Tem fisioterapia, hidroterapia, pilates, etc. Fazem um manejamento do seu tratamento, que vai desde dizer a que temperatura você deve tomar banho para evitar crises de fadiga, até dizer que tipos de exercício são recomendados para seu tipo de problema. Mesmo tendo levado uma penca de exames que fiz nos últimos 4 meses, me pediram mais um monte de exames: Raio X, Ressonância Magnética, Ultrassonografia, exames de sangues específicos, potenciais evocados de vários nervos, etc... Vou fazer todos lá, e já saí de lá com todos marcados, para daqui há mais ou menos 1 mês (vale lembrar que 1 desses exames, pela Unimed, meu plano particular, eu levaria 3 meses esperando uma data livre).
Comentei com a médica sobre a vitamina D, ela se mostrou habituada com o assunto e disse: "se vc está bem, continua tomando. Só fica de olho nos rins e fica tudo bem."
Sair de lá, em mais ou menos 1 hora e meia, examinada com qualidade, com exames marcados, lidando com pessoas muito eficazes e educadas, me encheu de esperança. Mas também me deu uma tristeza por cada pessoa que sofre nos hospitais do Brasil, sejam públicos ou particulares, pela má gestão, pela má educação das pessoas envolvidas, pela burocracia infernal de sempre.
Eu dei uma olhada no site do Sarah e vi que, apesar de ser uma entidade privada, promovida pelas Pioneiras Sociais, ela tem um contrato com o SUS firmado por lei. E como eles frisam diversas vezes no site: " aqui não se paga nada. Você já paga seus impostos".
Eu entendi, portanto, que posso chamar de hospital público. Todos os que se mantem dos nossos impostos, deveriam nos tratar como o SARAH me tratou hoje.
Fiquei triste de saber que normalmente a fila de espera leva até 3 anos. Eu fui chamada em 4 meses (às vezes dar de cara com a gravidade de EM me assusta). Mesmo com toda eficiência que demonstraram hoje, imagino que a procura deve ser absurda.
Existem muitos hospitais da rede SARAH pelo Brasil: Brasília, Belo Horizonte, São Luís, Rio de Janeiro, Macapá, Salvador e Belém. Isso deve ser divulgado. Essa forma de tratamento, deve ser espalhada.
Enfim, deixo aqui o link para o site deles. Vale a pena dar uma olhada nas informações, nas fotos da estrutura que temos aqui bem perto de nós, e não num país de primeiro mundo.
Imagino que devem existir coisas ruins, claro. Mas pela primeira vez em 4 meses, experimentei o lado humanizado de um hospital, de profissionais de saúde e saí de um local onde se falou da minha doença sem tristeza.
Dou Glórias a Deus por ter a chance de ter mais esse acompanhamento para ajudar na minha luta.
Ela está só começando. E a vitória é certa.
Beijos, beijo, beijos.
Carol.