segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Sobre ser mãe.



  Esses dias eu tive uma conversa séria com o marido. Ele disse, com ares de quem estava me dando conselho, que eu andava pegando pesado com a Clara. Sim, pode não parecer pra quem vê de longe, mas eu sou severa na educação dela. Até demais, segundo a percepção do Felipe. Eu não bato na Clara, apesar de achar que um tapinha no bumbum não mata. Eu cobro, eu exijo dela somente o que sei que ela é capaz de fazer, e ela sempre corresponde. Ela é uma menina muito carinhosa, muito mesmo. Muito educada, muito querida por todos.

  Meu principal objetivo pra ela é que ela seja FELIZ. Que ela possa escolher a profissão, que ela possa ter inteligência emocional, que ela tenha memórias felizes da infância, que ela tenha, na medida do possível, o mínimo de sofrimentos. Lidar com sofrimento é necessário, pois ele molda a nossa personalidade, nos fortalece. Mas ela não precisa sofrer além daquilo que todo mundo sofre pelo simples fato de viver nesse mundo escroto.

  Eu tenho uma história de vida muito incomum. Na verdade, acho que todo mundo tem, dadas as devidas proporções. Mas com o tempo, parei de sentir pena de mim  mesmo e passei a criar formas de entender como a história de minha vida foi essencial pra eu ser exatamente quem eu sou, e principalmente, pra eu gostar disso. Mas ao mesmo tempo, eu sei que muita gente não terminaria nada bem se passasse pelo que eu passei. E se alguém acha que isso é drama, só lamento. Minha missão, passou a ser evitar que a Clara passe por qualquer coisa parecida, dentro dos meus limites. Quando eu não puder evitar, pois sou só mãe, não dona dela, eu quero que ela saiba que eu SEMPRE estarei aqui. Sempre mesmo.

   Tem gente que se preocupa em deixar imóveis pros filhos (não tiro o mérito, pois até meu avô que eu amo muito pensava assim), tem gente que pensa em deixar educação ( que, obviamente, é uma preocupação de todos os pais, inclusive eu), e tem até gente sem noção quer ter filho famoso, filho que case com o partido bom. Nesses casos, aqueles pais que querem que os filhos sejam aquilo que eles queriam ser e foram frustrados pela vida. Tudo isso é normal. Eu acho...

   Claro que eu quero que tenhamos uma casa nossa, uma aposentadoria tranquila, que a Clara tenha uma carreira bem sucedida, etc, etc. Eu acho que a grande diferença. é que podemos pensar fora da bolha. Eu não preciso ter uma filha advogada, médica, engenheira, pra sentir que minha missão foi bem cumprida. Preciso ter uma filha feliz, realizada, segura, com auto estima batendo no teto. Aí sim, eu vou deitar na cama e sentir que cumpri minha missão.

  Sobre a auto estima, não tem a ver com usar roupa cara, carro caro, ter 50 sapatos, morar no bairro X caro. Quando a gente cria assim, ao meu ver, a gente joga os filhos pros leões. Porque manter isso na vida é difícil. Ele será sempre obrigado a ter um trabalho melhor, pra ganhar mais e gastar mais. E muitas vezes o preço a ser pago, é o da infelicidade. É o de não se encontrar nunca. E isso passa batido. Auto estima é se amar. É saber que não tem culpa pelos erros dos outros. É poder ser como você é, não como querem que você seja.

  Eu não chego nem perto da perfeição na educação da Clara. Meu método principal, é tentar tirar dela uma "maldição" enraizada nas pessoas da família onde eu cresci. Uma maldição de brigas, de abandono, de importância demais dada pra dinheiro e de menos pra união. Eu erro tentando acertar, pois SÓ EU sei o tamanho do estrago que a auto estima sofre quando você é abandonado em momentos cruciais da sua vida, seja bebê, seja adulto que acabou de ficar doente, seja adolescente passando pelos momentos críticos da fase sozinho. A Clara disso não vai sofrer. Eu sei que mãe ela vai ter sempre, pelo menos enquanto eu estiver viva na face da terra. Eu sinto uma coisa meio louca, meio leoa, quando eu penso em alguém fazer ela sofrer. A maioria das mães passa por isso. Muitas outras, infelizmente, não entendem bem. Querem preparar filho pra ter dinheiro, status, ou simplesmente, abandonam.

  Eu que já fui taxada de menina mimada, quando na verdade fui mimada sim contra a minha vontade, tive as minhas asas cortadas desde cedo, me surpreendo com o que eu fui capaz de fazer com a Clara sozinha. Eu mesma não acreditava em mim (olha o problema da auto estima aí). Eu fui capaz de cuidar de uma casa sozinha grávida, de cuidar dela bebê sozinha, de amamentar por anos, de fazer ela ser essa menina que quem conhece cai de amores. Eu sei que fui eu quem fiz isso acontecer. Claro que existe participação crucial do pai dela, que pensa como eu na maioria das coisas. Mas sou que fico em casa com ela, cuido dela. Faço tudo com ela. E sou a referência feminina na vida dela, que é uma menininha bem mocinha mesmo, que adora ser menina. rs.

  Ser mãe é ser capaz. Capaz de coisas inimagináveis. Ser capaz de trocar um filho de escola pois ele estava triste e, junto com seu marido, em 15 dias alfabetizar uma criança. É aprender a cozinhar (esse foi baita desafio pra mim rs), é acordar de madrugada por qualquer barulhinho, é amar aquele cheiro, que já deixou de ser de bebê faz anos, mas que ainda é o mais delicioso do mundo. É mentir se precisar, pra proteger. É ensinar a falar a verdade sempre, pra fortalecer. É contraditório, mas é puro, é real.

  Eu nunca fui ninguém sendo a Carolina. Mas a consegui finalmente ser A CAROLINA, depois que fui mãe da Clara.